Retornando ao
tema do meu post anterior, me chamou a atenção um texto do Mestre Mario
Quintana, que aborda praticamente o mesmo tema. Ainda mais se nos utilizarmos do
inevitável paralelo que se faz entre a linguagem cinematográfica e a literatura.
Esse texto, é
bom que se dê os devidos créditos (coisa que anda tão desacreditada nas
postagens na rede...), foi publicado no
livro “ A vaca e o hipogrifo”, da Editora Globo.
O texto:
Clareiras
Se um autor faz você voltar atrás na leitura, seja de
um período ou de uma simples frase, não o julgue profundo demais, não fique
complexado: o inferior é ele.
A atual crise de expressão, que tanto vem alarmando a
velha guarda que morre mas não se entrega, não deve ser propriamente de
expressão, mas de pensamento. Como é que pode escrever certo quem não sabe ao
certo o que procura dizer?
Em meio à intrincada selva selvaggia da nossa
literatura encontram-se as vezes, no entanto, repousantes clareiras. E clareira
pertence à mesma família etimológica de clareza... Que o leitor me desculpe
umas considerações tão óbvias. É que eu desejava agradecer, o quanto antes, o
alerta repouso que me proporcionaram três livros que li na última semana: Rio 1900, de Brito Broca, Fronteira de Moysés Vellinho, e Alguns estudos, de Carlo Dante de
Moraes.
Porque, ao ler alguém que consegue expressar-se com
toda a limpidez, nem sentimos que estamos lendo um livro: é como se o
estivéssemos pensando.
E, como também estive a folhear o livro do velho
Pascall, na edição Globo, encontrei providencialmente em meu apoio estas
palavras, à pág.23 dos Pensamentos:
“Quando deparamos com o estilo natural, ficamos
pasmados e encantados, como se esperássemos ver um autor e encontrássemos um
homem.”
Imagine o sr.
Leitor querer complementar qualquer coisa após as palavras do mestre Quintana.
Mas correndo esse risco, proponho esse paralelo, do diretor que não nos
permite a catarse da experiência
cinematográfica pura, cuja mão pesada nos segura pela gola da camisa a exclamar:
fui eu que fiz. É a minha obra. Admire-a aí de fora!
E lembro de
minha amiga, a filosofa Lala De Henzelein, que a principal preocupação de
qualquer realizador, seja no teatro, cinema, música, literatura, ou o que mais
seja, deve ser sempre resumida numa palavra: generosidade. Para com o texto,
com os personagens e, principalmente, com o leitor/expectador/ouvinte.
Generosidade em deixar todas as portas escancaradas para que ele possa entrar
na obra.
Fazer isso com a
arte e o talento capaz de nos encantar é o que define o gênio. Como
Kubrick, Altman, Hitchcock, Spielberg...
Légis Schwartsburd é formado em cinema pela FAAP-SP e tem especialização em direção de atores pela Escola Internacional de Cinema e Televisão, em San Antonio de los Baños-Cuba. É diretor de cena e professor de produção publicitária em Cine-Tv.